Cada pessoa procura a prática do Yoga por alguma razão especial, e
através da dedicação e do tempo doado à prática, alcança os benefícios
desejados. Ao perceber um estado de paz interior e bem-estar muitas ficam encantadas
e acabam por projetar suas expectativas no professor de Yoga. Ele se torna uma
pessoa importante e admirável, afinal trabalha com aquilo que ama, e transmite
ensinamentos que podem transformar a vida dos alunos, assim como vem
transformando a sua.
Pensando desta forma nasce dentro de muitas pessoas um desejo enorme de
mudar tudo na vida, uma vontade de deixar o emprego que não satisfaz o coração
e se tornar professor de Yoga também. No entanto, é importante lembrar que com
a profissão nasce também uma responsabilidade, um dever, nasce o dharma de ser
professor de Yoga. E assim como a prática, esse dever ultrapassa os limites da
sala de aula, tornando-se um emprego de tempo integral.
Alguns questionamentos surgem durante a caminhada do dividir conhecimentos.
O primeiro deles é: o que é ser professor de Yoga?
Outro é: o que necessito saber? Quando sei que estou pronto para
ensinar?
Ser professor de Yoga é na verdade ser um guia espiritual. É ser o
espelho onde o aluno enxergar suas dificuldades e também a sua luz. É ser a
pessoa que mostra o caminho para o auto-conhecimento. Aqui percebemos que não é
uma tarefa tão fácil, pois para ser um guia espiritual que mostra o caminho
para o auto-conhecimento é necessário ter andado por este caminho. Para ser o espelho
que reflete os condicionamentos do aluno é necessário estar livre dos próprios
condicionamentos. O professor é aquele que transmite o conhecimento já
realizado.
Então a dúvida para os professores. Será que somos professores? Ou
apenas pessoas que transmitem técnicas e vislumbres do que seja essa
experiência de realização através do Yoga? Acredito que é melhor a segunda
opção, menos pretensiosa, mas realista. Somos instrutores, aquele que indica o
caminho, pois conhece a direção e necessita de companhia para caminhá-lo.
Afinal, aprendemos e muito ensinando.
Estou em contato com o Yoga a mais de 20 anos, e venho ensinando alunos
regulares e futuros professores há quase 12 anos. Diariamente aprendo, continuo
estudando, pesquisando, escrevendo, praticando e fazendo cursos de
aperfeiçoamento. Tenho a sensação de estar no inicio da caminhada, tenho muito
a aprender. Com a experiência vivida trago algumas informações relevantes para
aqueles que ensinam e almejam iniciar nessa caminhada.
O importante é ensinar sem pretensões, é ser verdadeiro, é ser exemplo,
não é necessário saber tudo, é necessário ser honesto em relação aquilo que se
sabe e em relação as suas limitações. Acredito que existem qualidades básicas para ser professor. Afinal
ensinar é mais do que transmitir técnicas. É necessário antes de tudo ter
compaixão por todos aqueles que anseiam aprender. Além disso, é desejável manter uma atitude de desapego, lembre-se que os
alunos não são “seus”, são alunos, que em algum momento irão escolher você para
ensiná-los e em outros, irão procurar outra pessoa. Essa atitude nos protege de
uma auto-crítica severa, pois quando estamos livres do sentimento de apego, não
sofremos e nem duvidamos dos nossos conhecimentos ao “perder” um aluno. No
entanto estar atento em relação a rotatividade muito grande de alunos é
fundamental. É fácil dar aula para muitos alunos novos, é só fazer uma boa
divulgação de seu trabalho. O difícil é mantê-los, para isso continue estudando
e nas aulas aprofunde assuntos teóricos e espirituais.
Cuide para não “vestir” a projeção dos alunos, percebo isso acontecendo
com vários colegas de trabalho. Assim como os alunos irão colocá-lo num
pedestal, irão retirá-lo quando perceberem que você é uma pessoa normal, que
está ensinando e aprendendo, tentando e dando o melhor de si. Na verdade todos
nós como alunos almejamos encontrar o professor perfeito, e às vezes temos uma
idéia platônica em relação aquele que escolhemos como professor. Quando a
idealização não corresponde com a realidade, acabamos por perder o professor.
Na verdade quem perde é o aluno, devemos aprender com aquilo que gostamos e
também aprender a não repetir o que não gostamos.
Como professora, creio que o maior dever é incentivar e entusiasmar o
aluno a praticar. Afinal sabemos que ao dedicar tempo a pratica, o Yoga se
manifesta. Aprendi com a experiência que ao ministrar muitas aulas por dia
acabamos diluindo a energia entre elas, e com isso diluímos também o
entusiasmo, desta forma não fazemos bem o papel de professor. Concentre sua
energia em dar poucas e excelentes aulas, com certeza isso trará bons
resultados.
Caso você seja apenas um praticante encantado com os benefícios do Yoga
e está entusiasmado em aprender mais e dividir seus conhecimentos, pense bem
antes de deixar seu emprego e mudar totalmente a sua vida. Não é porque o Yoga
se tornou uma ferramenta para seu crescimento, que a melhor forma de estar em
contato com ele é se tornando professor. O contrário pode acontecer, você pode
ficar tão envolvido com a prática de seus alunos que acaba não tendo tempo para
a sua.
A profissão é maravilhosa, traz muita satisfação, porém a dedicação deve
ser intensa. Para crescer é necessário investir em cursos de aperfeiçoamento,
ter tempo para praticar, estudar e produzir conhecimento escrevendo textos e
fazendo pesquisas. Não basta somente ministrar aulas, é necessário saber como
lidar com aspectos mais densos da profissão, como cuidar da limpeza e
harmonização do espaço em que trabalha, ter o compromisso de não falhar nos
horários, divulgar o seu trabalho e saber cobrar por ele, além de tantas outras
coisas básicas e pequenas que conduzem ao sucesso.
Este texto não tem como objetivo desanimá-lo em relação à idéia de ser
professor, mas sim deixar muito claro que o entusiasmo deve ser grande o
suficiente para aniquilar todas as dificuldades.
A
sugestão é: se você está encantado pelo Yoga, continue praticando faça um curso
de formação, aperfeiçoe sua prática, estude e leia muito. Mas como saber se
está preparado? Lembre-se que a pessoa só aprende a nadar, entrando na água, e
que aprendemos a ensinar a cada aula, a cada aluno novo, a cada dificuldade.
Reflita se o seu dharma é ser professor, pois quando o dharma é seguido, o
karma é suave, produz crescimento.