terça-feira, agosto 23, 2011

Yoga, um caminho para corajosos

O Yoga tem como seu principal objetivo nos abrir para a luz que habita nosso interior, nos mostrar nossa verdadeira natureza luminosa e completa. No entanto para chegar a esta luz é necessário entrar em contato e ultrapassar a escuridão que encobre nossa felicidade plena. A prática de Yoga é como colocar-se de frente a um espelho, o espelho reflete verdadeiramente quem somos, vemos nele muito mais do que nosso melhor, mas também nossas dificuldades. E é aí que o Yoga se torna um caminho para pessoas corajosas, pois para nos olharmos de frente é necessário muita coragem. Além disso, é preciso coragem para de fato mudar nossos padrões de comportamento, afinal mudar significa deixar de lado o que conhecemos e nos abrirmos para o novo, o que causa certa insegurança.

Tomar consciência de quem somos e daquilo que não gostamos em nós, é o primeiro passo além de ser o mais importante e difícil em todo o processo de transformação. E o Yoga é esse processo, em que deixamos de ser o ser condicionado pelas experiências passadas e aprendemos a viver o momento presente. Como praticante de Ashtanga Vinyasa Yoga, muitas vezes questionei a seqüência de posturas da primeira série, sem entender exatamente o porquê de tantas posturas em pé, com flexões para frente, lateralidades, torções e somente no final a extensão da coluna. Com o passar do tempo e a prática contínua fui obtendo respostas, e a principal descoberta surgiu quando percebi a estreita relação entre a seqüência de posturas com o muladhara chakra. 

muladhara chakra é o centro de energia responsável pela relação com a matéria densa, está diretamente ligado ao nosso instinto de sobrevivência, segurança interna e com construção da coragem necessária para nos olharmos de frente durante a prática de Yoga. Este chakra é representado graficamente por um quadrado com quatro pétalas, podemos relacionar as pétalas com as quadro direções das posturas da primeira série, flexão para frente, as lateralidades para direita e esquerda e finalmente as extensões da coluna. Durante toda a prática levamos energia para o muladhara chakra mantendo mula bandha, a contração da região do períneo e os esfíncteres do ânus e da uretra, fortalecendo e equilibrando a energia no chakra. As posturas em pé além de fortalecerem as pernas, proporcionam equilíbrio para o corpo e a mente, nos trazendo mais firmeza e coragem para andarmos com as próprias pernas e seguirmos em frente no caminho do Yoga, mesmo quando encontramos obstáculos.

Com o muladhara chakra fortalecido é possível atravessar o oceano desconhecido das experiências vividas no passado e gravadas em nosso subconsciente denominadas samskaras. Estas impressões no subconsciente nos impedem de viver o hoje e nos aprisionam em nossos condicionamentos. Somente navegando pelo oceano do samskara é possível fazer mudança, pois somente tomando consciência de nossos condicionamentos é possível dar um passo em direção a mudança. Com a segurança advinda da energia equilibrada do muladhara chakra podemos viver no presente sem medo do futuro e sem lembranças do passado que aprisionam. Para podemos caminhar pelo Universo do Yoga é necessário muito mais do que tapas (austeridade) e uma grande pitada de entusiasmo, esta caminhada requer muita coragem, pois quanto mais próximos chegamos da luz, maior se torna a nossa sombra.

Coragem e boas práticas!

Om Shanti

Camila Reitz 
iniciou seu caminho no Yoga aos 18 anos de idade, no ano de 1991.  Ministra curso de Formação para professores de Yoga. Saiba mais: https://www.facebook.com/yogacomcamilareitz

sexta-feira, agosto 12, 2011

Inspiração


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
tornar-se um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
(Fernando Pessoa)

sexta-feira, agosto 05, 2011

Ahimsa através da comunicação


Ahimsa é o primeiro dos Yamas, valores universais ensinados no Yoga. É o princípio da não violência, ou seja, da ação pacifica. O ícone deste valor na Índia e no mundo foi Gandhi que através do não revidar a violência do império inglês, conseguiu acabar com a colonização da Inglaterra na Índia.
A violência ocorre em vários níveis, e o princípio de ahimsa tem como objetivo acabar com qualquer tipo de violência, seja em pensamentos, em palavras ou em ações.
Nos dias de hoje a violência física é considerada como algo absurdo, por isso não saímos por ai dando soco na cara de pessoas que nos contrariam. Isso é muito obvio para as pessoas que tem uma boa condição de vida e de educação. A violência em pensamentos com certeza chega a extrapolar os limites da imaginação, no entanto na grande maioria das vezes não ultrapassa os limites da ação. Com isso vivemos em uma sociedade em que a forma mais simples de liberar a raiva é através da agressividade na comunicação oral ou escrita. Na comunicação escrita tomamos o nosso tempo e pensamos bem sobre o que escrevemos, e é exatamente por isso que as palavras se tornam intensas e quando mal escritas e com má intenção se tornam altamente agressivas. Já na comunicação verbal, como temos a tendência em reagir, fica muito difícil segurar a frustração e ao invés de dar um soco no cara, acabamos dando um soco na boca do estomago com palavras escolhidas para ferir.
Para que isso não aconteça, ou pelo menos com menos freqüência é interessante perceber que a raiz da agressividade surge da raiva e a raiva surge da obstrução de algum desejo. Perceba que sempre que você reage com impulsos de raiva é quando um desejo seu é obstruído, ou seja, quando você se percebe privado de algo que almeja. Então analisar os desejos e a sua relevância é o primeiro passo para uma comunicação pacifica.
Existem várias formas de comunicação e aqui vou explanar quatro delas, estas estão descritas na Bhagavad Gita, aprendi com a minha professora Gloria Arieira no retiro que fizemos no final de semana passado e confesso que escrever irá me ajudar a recordar e a memorizar.
As duas primeiras têm em si elementos para uma comunicação com ahimsa:
·         Comunicação entre um professor e um aluno – neste tipo de comunicação existe a entrega do aluno em ouvir com o coração aberto o que o professor diz. Existe o professor que oferece o conhecimento e o aluno que o recebe.
·         Comunicação entre duas pessoas que tem clareza mental. Quando essa comunicação acontece as duas pessoas tem como objetivo comum o bem um do outro. Por isso falando a verdade, sem agredir sempre chegam ao entendimento e ao crescimento.
As outras duas têm elementos que prejudicam a comunicação com ahimsa:
  • Comunicação julgadora. É aquela entre uma pessoa que tem pré-julgamentos em relação a outra. Quando tenho antipatia por uma pessoa, nada do que ela fale irá me servir. Tenho um pré-julgamento em relação a ela e a tudo o que vem dela. Acabo não ouvindo o que ela fala e projeto minhas aversões em suas idéias. Na verdade isso não é comunicação, pois o que é realmente falado não chega de forma real para a pessoa que “ouve”. Fica uma comunicação do tipo: “só porque você disse, eu não concordo”.
  • Comunicação onde só se fala, onde acaba ninguém ouvindo. Esse tipo de comunicação é o mais freqüente em nossa sociedade. Onde um quer provar por A mais B e através de quem fala mais alto que tem a razão. O objetivo principal desse tipo de “conversa”é  o desentupir e não comunicar verdadeiramente.
A maioria dos desentendimentos surge nos dois tipos de comunicação acima. Para que haja ahimsa através da comunicação é de extrema importância olharmos para o objetivo de estarmos nos comunicando. Perceba se você está deixando a outra pessoa falar. Perceba se você está acuando a pessoa e fazendo com que ela fique na defensiva. Perceba se existe a ausência de mostrar que você está sempre certo. Perceba se você não está julgando. Perceba se você está aberto para ouvir. Perceba se as palavras que você escolhe são as que a pessoa consegue ouvir.
Uma vez um professor na Índia me disse, se alguém não entende o que você falou foi porque você não falou da forma certa e não porque a pessoa que não sabe entender, então fale de outra forma.
Para alcançarmos uma comunicação com ahimsa temos que ter em mente o objetivo da conversa e este objetivo deve ser o entendimento. No entanto existem formas de conversar que não ajudam a chegarmos a um ponto comum. Somente conseguimos entender o outro quando nos colocamos no lugar do outro e percebemos que não faríamos diferente caso fossemos aquela pessoa. As maiores guerras do mundo começaram por pessoas acharem que o seu ponto de vista é o único certo.
Devemos nos lembrar da importância de ahimsa ser o primeiro dos valores do Yoga. Aqui vai um convite para reflexão sobre como nos comunicamos e um cuidar melhor do que falamos, quando e principalmente de como falamos.