sexta-feira, setembro 02, 2011

Ser professor de Yoga


Cada pessoa procura a prática do Yoga por alguma razão especial, e através da dedicação e do tempo doado à prática, alcança os benefícios desejados. Ao perceber um estado de paz interior e bem-estar muitas ficam encantadas e acabam por projetar suas expectativas no professor de Yoga. Ele se torna uma pessoa importante e admirável, afinal trabalha com aquilo que ama, e transmite ensinamentos que podem transformar a vida dos alunos, assim como vem transformando a sua.

Pensando desta forma nasce dentro de muitas pessoas um desejo enorme de mudar tudo na vida, uma vontade de deixar o emprego que não satisfaz o coração e se tornar professor de Yoga também. No entanto, é importante lembrar que com a profissão nasce também uma responsabilidade, um dever, nasce o dharma de ser professor de Yoga. E assim como a prática, esse dever ultrapassa os limites da sala de aula, tornando-se um emprego de tempo integral.

Alguns questionamentos surgem durante a caminhada do dividir conhecimentos. O primeiro deles é: o que é ser professor de Yoga?
Outro é: o que necessito saber? Quando sei que estou pronto para ensinar?

Ser professor de Yoga é na verdade ser um guia espiritual. É ser o espelho onde o aluno enxergar suas dificuldades e também a sua luz. É ser a pessoa que mostra o caminho para o auto-conhecimento. Aqui percebemos que não é uma tarefa tão fácil, pois para ser um guia espiritual que mostra o caminho para o auto-conhecimento é necessário ter andado por este caminho. Para ser o espelho que reflete os condicionamentos do aluno é necessário estar livre dos próprios condicionamentos. O professor é aquele que transmite o conhecimento já realizado.

Então a dúvida para os professores. Será que somos professores? Ou apenas pessoas que transmitem técnicas e vislumbres do que seja essa experiência de realização através do Yoga? Acredito que é melhor a segunda opção, menos pretensiosa, mas realista. Somos instrutores, aquele que indica o caminho, pois conhece a direção e necessita de companhia para caminhá-lo. Afinal, aprendemos e muito ensinando.

Estou em contato com o Yoga a mais de 16 anos, e venho ensinando alunos regulares e futuros professores há quase 12 anos. Diariamente aprendo, continuo estudando, pesquisando, escrevendo, praticando e fazendo cursos de aperfeiçoamento. Tenho a sensação de estar no inicio da caminhada, tenho muito a aprender. Com a experiência vivida trago algumas informações relevantes para aqueles que ensinam e almejam iniciar nessa caminhada.

O importante é ensinar sem pretensões, é ser verdadeiro, é ser exemplo, não é necessário saber tudo, é necessário ser honesto em relação aquilo que se sabe e em relação as suas limitações.

Acredito que existem qualidades básicas para ser professor. Afinal ensinar é mais do que transmitir técnicas. É necessário antes de tudo ter compaixão por todos aqueles que anseiam aprender.
Além disso, é desejável manter uma atitude de desapego, lembre-se que os alunos não são “seus”, são alunos, que em algum momento irão escolher você para ensiná-los e em outros, irão procurar outra pessoa. Essa atitude nos protege de uma auto-crítica severa, pois quando estamos livres do sentimento de apego, não sofremos e nem duvidamos dos nossos conhecimentos ao “perder” um aluno. No entanto estar atento em relação a rotatividade muito grande de alunos é fundamental. É fácil dar aula para muitos alunos novos, é só fazer uma boa divulgação de seu trabalho. O difícil é mantê-los, para isso continue estudando e nas aulas aprofunde assuntos teóricos e espirituais.

Cuide para não “vestir” a projeção dos alunos, percebo isso acontecendo com vários colegas de trabalho. Assim como os alunos irão colocá-lo num pedestal, irão retirá-lo quando perceberem que você é uma pessoa normal, que está ensinando e aprendendo, tentando e dando o melhor de si. Na verdade todos nós como alunos almejamos encontrar o professor perfeito, e às vezes temos uma idéia platônica em relação aquele que escolhemos como professor. Quando a idealização não corresponde com a realidade, acabamos por perder o professor. Na verdade quem perde é o aluno, devemos aprender com aquilo que gostamos e também aprender a não repetir o que não gostamos.

Como professora, creio que o maior dever é incentivar e entusiasmar o aluno a praticar. Afinal sabemos que ao dedicar tempo a pratica, o Yoga se manifesta. Aprendi com a experiência que ao ministrar muitas aulas por dia acabamos diluindo a energia entre elas, e com isso diluímos também o entusiasmo, desta forma não fazemos bem o papel de professor. Concentre sua energia em dar poucas e excelentes aulas, com certeza isso trará bons resultados.

Caso você seja apenas um praticante encantado com os benefícios do Yoga e está entusiasmado em aprender mais e dividir seus conhecimentos, pense bem antes de deixar seu emprego e mudar totalmente a sua vida. Não é porque o Yoga se tornou uma ferramenta para seu crescimento, que a melhor forma de estar em contato com ele é se tornando professor. O contrário pode acontecer, você pode ficar tão envolvido com a prática de seus alunos que acaba não tendo tempo para a sua.

A profissão é maravilhosa, traz muita satisfação, porém a dedicação deve ser intensa. Para crescer é necessário investir em cursos de aperfeiçoamento, ter tempo para praticar, estudar e produzir conhecimento escrevendo textos e fazendo pesquisas. Não basta somente ministrar aulas, é necessário saber como lidar com aspectos mais densos da profissão, como cuidar da limpeza e harmonização do espaço em que trabalha, ter o compromisso de não falhar nos horários, divulgar o seu trabalho e saber cobrar por ele, além de tantas outras coisas básicas e pequenas que conduzem ao sucesso.

Este texto não tem como objetivo desanimá-lo em relação à idéia de ser professor, mas sim deixar muito claro que o entusiasmo deve ser grande o suficiente para aniquilar todas as dificuldades. 
A sugestão é: se você está encantado pelo Yoga, continue praticando faça um curso de formação, aperfeiçoe sua prática, estude e leia muito. Mas como saber se está preparado? Lembre-se que a pessoa só aprende a nadar, entrando na água, e que aprendemos a ensinar a cada aula, a cada aluno novo, a cada dificuldade. Reflita se o seu dharma é ser professor, pois quando o dharma é seguido, o karma é suave, produz crescimento. 

Camila Reitz ministra curso de Formação para professores. Novas turmas em Florianópolis, São Paulo e Bahia. Mais informações: https://www.facebook.com/yogacomcamilareitz

terça-feira, agosto 23, 2011

Yoga, um caminho para corajosos

O Yoga tem como seu principal objetivo nos abrir para a luz que habita nosso interior, nos mostrar nossa verdadeira natureza luminosa e completa. No entanto para chegar a esta luz é necessário entrar em contato e ultrapassar a escuridão que encobre nossa felicidade plena. A prática de Yoga é como colocar-se de frente a um espelho, o espelho reflete verdadeiramente quem somos, vemos nele muito mais do que nosso melhor, mas também nossas dificuldades. E é aí que o Yoga se torna um caminho para pessoas corajosas, pois para nos olharmos de frente é necessário muita coragem. Além disso, é preciso coragem para de fato mudar nossos padrões de comportamento, afinal mudar significa deixar de lado o que conhecemos e nos abrirmos para o novo, o que causa certa insegurança.

Tomar consciência de quem somos e daquilo que não gostamos em nós, é o primeiro passo além de ser o mais importante e difícil em todo o processo de transformação. E o Yoga é esse processo, em que deixamos de ser o ser condicionado pelas experiências passadas e aprendemos a viver o momento presente. Como praticante de Ashtanga Vinyasa Yoga, muitas vezes questionei a seqüência de posturas da primeira série, sem entender exatamente o porquê de tantas posturas em pé, com flexões para frente, lateralidades, torções e somente no final a extensão da coluna. Com o passar do tempo e a prática contínua fui obtendo respostas, e a principal descoberta surgiu quando percebi a estreita relação entre a seqüência de posturas com o muladhara chakra. 

muladhara chakra é o centro de energia responsável pela relação com a matéria densa, está diretamente ligado ao nosso instinto de sobrevivência, segurança interna e com construção da coragem necessária para nos olharmos de frente durante a prática de Yoga. Este chakra é representado graficamente por um quadrado com quatro pétalas, podemos relacionar as pétalas com as quadro direções das posturas da primeira série, flexão para frente, as lateralidades para direita e esquerda e finalmente as extensões da coluna. Durante toda a prática levamos energia para o muladhara chakra mantendo mula bandha, a contração da região do períneo e os esfíncteres do ânus e da uretra, fortalecendo e equilibrando a energia no chakra. As posturas em pé além de fortalecerem as pernas, proporcionam equilíbrio para o corpo e a mente, nos trazendo mais firmeza e coragem para andarmos com as próprias pernas e seguirmos em frente no caminho do Yoga, mesmo quando encontramos obstáculos.

Com o muladhara chakra fortalecido é possível atravessar o oceano desconhecido das experiências vividas no passado e gravadas em nosso subconsciente denominadas samskaras. Estas impressões no subconsciente nos impedem de viver o hoje e nos aprisionam em nossos condicionamentos. Somente navegando pelo oceano do samskara é possível fazer mudança, pois somente tomando consciência de nossos condicionamentos é possível dar um passo em direção a mudança. Com a segurança advinda da energia equilibrada do muladhara chakra podemos viver no presente sem medo do futuro e sem lembranças do passado que aprisionam. Para podemos caminhar pelo Universo do Yoga é necessário muito mais do que tapas (austeridade) e uma grande pitada de entusiasmo, esta caminhada requer muita coragem, pois quanto mais próximos chegamos da luz, maior se torna a nossa sombra.

Coragem e boas práticas!

Om Shanti

Camila Reitz 
iniciou seu caminho no Yoga aos 18 anos de idade, no ano de 1991.  Ministra curso de Formação para professores de Yoga. Saiba mais: https://www.facebook.com/yogacomcamilareitz

sexta-feira, agosto 12, 2011

Inspiração


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
tornar-se um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
(Fernando Pessoa)

sexta-feira, agosto 05, 2011

Ahimsa através da comunicação


Ahimsa é o primeiro dos Yamas, valores universais ensinados no Yoga. É o princípio da não violência, ou seja, da ação pacifica. O ícone deste valor na Índia e no mundo foi Gandhi que através do não revidar a violência do império inglês, conseguiu acabar com a colonização da Inglaterra na Índia.
A violência ocorre em vários níveis, e o princípio de ahimsa tem como objetivo acabar com qualquer tipo de violência, seja em pensamentos, em palavras ou em ações.
Nos dias de hoje a violência física é considerada como algo absurdo, por isso não saímos por ai dando soco na cara de pessoas que nos contrariam. Isso é muito obvio para as pessoas que tem uma boa condição de vida e de educação. A violência em pensamentos com certeza chega a extrapolar os limites da imaginação, no entanto na grande maioria das vezes não ultrapassa os limites da ação. Com isso vivemos em uma sociedade em que a forma mais simples de liberar a raiva é através da agressividade na comunicação oral ou escrita. Na comunicação escrita tomamos o nosso tempo e pensamos bem sobre o que escrevemos, e é exatamente por isso que as palavras se tornam intensas e quando mal escritas e com má intenção se tornam altamente agressivas. Já na comunicação verbal, como temos a tendência em reagir, fica muito difícil segurar a frustração e ao invés de dar um soco no cara, acabamos dando um soco na boca do estomago com palavras escolhidas para ferir.
Para que isso não aconteça, ou pelo menos com menos freqüência é interessante perceber que a raiz da agressividade surge da raiva e a raiva surge da obstrução de algum desejo. Perceba que sempre que você reage com impulsos de raiva é quando um desejo seu é obstruído, ou seja, quando você se percebe privado de algo que almeja. Então analisar os desejos e a sua relevância é o primeiro passo para uma comunicação pacifica.
Existem várias formas de comunicação e aqui vou explanar quatro delas, estas estão descritas na Bhagavad Gita, aprendi com a minha professora Gloria Arieira no retiro que fizemos no final de semana passado e confesso que escrever irá me ajudar a recordar e a memorizar.
As duas primeiras têm em si elementos para uma comunicação com ahimsa:
·         Comunicação entre um professor e um aluno – neste tipo de comunicação existe a entrega do aluno em ouvir com o coração aberto o que o professor diz. Existe o professor que oferece o conhecimento e o aluno que o recebe.
·         Comunicação entre duas pessoas que tem clareza mental. Quando essa comunicação acontece as duas pessoas tem como objetivo comum o bem um do outro. Por isso falando a verdade, sem agredir sempre chegam ao entendimento e ao crescimento.
As outras duas têm elementos que prejudicam a comunicação com ahimsa:
  • Comunicação julgadora. É aquela entre uma pessoa que tem pré-julgamentos em relação a outra. Quando tenho antipatia por uma pessoa, nada do que ela fale irá me servir. Tenho um pré-julgamento em relação a ela e a tudo o que vem dela. Acabo não ouvindo o que ela fala e projeto minhas aversões em suas idéias. Na verdade isso não é comunicação, pois o que é realmente falado não chega de forma real para a pessoa que “ouve”. Fica uma comunicação do tipo: “só porque você disse, eu não concordo”.
  • Comunicação onde só se fala, onde acaba ninguém ouvindo. Esse tipo de comunicação é o mais freqüente em nossa sociedade. Onde um quer provar por A mais B e através de quem fala mais alto que tem a razão. O objetivo principal desse tipo de “conversa”é  o desentupir e não comunicar verdadeiramente.
A maioria dos desentendimentos surge nos dois tipos de comunicação acima. Para que haja ahimsa através da comunicação é de extrema importância olharmos para o objetivo de estarmos nos comunicando. Perceba se você está deixando a outra pessoa falar. Perceba se você está acuando a pessoa e fazendo com que ela fique na defensiva. Perceba se existe a ausência de mostrar que você está sempre certo. Perceba se você não está julgando. Perceba se você está aberto para ouvir. Perceba se as palavras que você escolhe são as que a pessoa consegue ouvir.
Uma vez um professor na Índia me disse, se alguém não entende o que você falou foi porque você não falou da forma certa e não porque a pessoa que não sabe entender, então fale de outra forma.
Para alcançarmos uma comunicação com ahimsa temos que ter em mente o objetivo da conversa e este objetivo deve ser o entendimento. No entanto existem formas de conversar que não ajudam a chegarmos a um ponto comum. Somente conseguimos entender o outro quando nos colocamos no lugar do outro e percebemos que não faríamos diferente caso fossemos aquela pessoa. As maiores guerras do mundo começaram por pessoas acharem que o seu ponto de vista é o único certo.
Devemos nos lembrar da importância de ahimsa ser o primeiro dos valores do Yoga. Aqui vai um convite para reflexão sobre como nos comunicamos e um cuidar melhor do que falamos, quando e principalmente de como falamos.

quarta-feira, julho 27, 2011

Administrando o tempo em paz


O tempo está cada vez mais escasso para todos nós. O mundo com tantas novidades tecnológicas por um lado nos ajuda a fazer tudo de forma mais rápida e desperdiçando menos tempo. Por outro lado, faz com que tenhamos cada vez mais coisas para fazer, além é claro, da obrigação de fazermos tudo com mais eficiência e rapidez.

Antigamente escrevíamos cartas para amigos no exterior ou em alguma cidade distante. Lembro que era prazeroso escrever em papel, fazer um desenho e enviar uma foto junto. Demorava um tempão para a resposta chegar, demorava tanto que nem ficávamos preocupados esperando a tal resposta, e era uma alegria ver o carteiro chegando. Hoje, carteiros só trazem contas para pagar. E o meio de comunicação é feito pelo computador. Escrevemos mais e-mail de trabalho do que qualquer outra coisa. Uma amiga disse um dia: “é ótimo quando você responde o e-mail, pois você passa o problema para frente, e ele só volta quando a resposta voltar”.

Mas mantenha a calma, pois há de existir uma forma de resolver essa situação de falta de tempo. A principal forma é termos a consciência de que o tempo tem duas características que não mudam nunca: o tempo não para, e nunca voltar atrás. Temos que aceitar e saber lidar com o que já passou e também administrar a falta de tempo em paz.

No momento estou numa situação de falta de tempo terrível. Parece que tudo está acontecendo ao mesmo tempo, e realmente está! O prazo para entrega desse texto está esgotado, e com calma tenho que escrever. Então as dicas que escrevo aqui são as que eu mesma estou utilizando. A primeira coisa a fazer é escrever todas as tarefas num papel. A grande vantagem de fazer uma lista é retirar as tarefas da cabeça para criar espaço e leveza para solucioná-las. Tome um tempo para refletir o que é realmente imprescindível fazer agora e o que pode ser feito depois, priorizando as tarefas. Parar para relaxar e tomar um tempo para si tem uma extrema importância durante o processo de executar tarefas. Dessa forma a mente fica mais calma e quanto mais calma, mais alerta e capaz para solucionar problemas.

Muitas vezes menos é mais. Aprendi isso com um aluno da formação para professores. Pedi para todos escrevessem os compromissos que iriam assumir durante o curso, e ele falou: “vou me comprometer a fazer ao menos o mínimo”. Pensei, como assim, vai se comprometer a fazer o mínimo? E ele complementou: “mas vou tentar ao máximo, fazer o máximo”.

Então, observe a sua lista de tarefas e comprometa-se a fazer pelo menos o mínimo que é necessário ser feito, e se puder, faça o máximo, o melhor que puder.

Sugeri para mim mesma e sugiro para você fazer uma resolução interior. No Yoga chamamos essa resolução de samkalpa, existe uma forma específica de fazer essa resolução. Deve ser uma frase curta, positiva e conjugada no presente, pois o subconsciente só capta informações

no presente. Para manter a paz sugiro algo como: “faço uma coisa de cada vez” ou “resolvo tudo em paz”. Repita seu samkalpa pelo menos 3 vezes ao dia, ou sempre que estiver ansioso para resolver algo. Respire fundo, feche os olhos e visualize-se em paz resolvendo qualquer situação que possa aparecer. Com certeza isso irá ajudá-lo.

Existem teorias que dizem que os dias não têm mais 24 horas. Chego a pensar que isso realmente pode ser verdade. Afinal não dá mais tempo de fazer tudo o que temos que fazer, quem diria fazer tudo o que queremos fazer. Mas será que a solução não seria querer menos?

Bem, talvez essa seja uma das soluções, afinal muitas vezes menos é mais. Mas no momento não tenho tempo para refletir sobre isso, vou colocar essa reflexão na minha lista de tarefas, assim o assunto não vai ficar pendurado na minha cabeça, ocupando espaço que deveria estar preenchido de paz.

Camila Reitz pratica Yoga há 18 anos, estudou no Brasil, Índia, Estados Unidos e Austrália, criou a marca Devi e ministra curso de formação para professores de Yoga. www.devi.com.br e www.yogacomcamilareitz.blogspot.com

terça-feira, julho 26, 2011

Praticamos Yoga por pura necessidade

Praticamos Yoga por pura necessidade 

Imagine tudo perfeitamente bem. Você sem questionamentos sobre o universo ou sobre sua pessoa, com todas as perguntas respondidas. Imagine-se livre para viver o seu potencial, sem medos, apegos, livre de condicionamentos, livre para viver cada momento, aceitando-se e aceitando o rumo da vida e dos acontecimentos no mundo exatamente do jeito que eles são. Imagine-se sábio.

Caso você se sinta dessa forma, não há, na verdade, necessidade de praticar Yoga, pois o que queremos, através da prática e do estudo, é chegar a este lugar de paz, compreensão, aceitação, liberdade e bem-aventurança.

Por isso, afirmo que nós, yoguis, praticamos Yoga por pura necessidade. Se em nossas vidas tudo estivesse perfeito, caso não houvesse dúvidas sobre a existência, caso não houvesse nenhuma inquietação ou ignorância sobre nós mesmos e sobre o universo, além de muitas outras perguntas sem respostas, com certeza não iríamos investir ou “gastar” nosso tempo praticando Yoga. São técnicas austeras cheias de disciplina, super-rigorosas e que, às vezes, podem até parecer uma tortura. Iríamos, sim, para a praia, encontrar nossos amigos, fazer algo mais fácil e divertido. Não quero dizer que a prática seja algo chato, mas é necessário e, principalmente, no inicio, exige bastante esforço e perseverança.
Então praticamos Yoga porque precisamos; temos uma necessidade de nos entendermos, de entendermos nosso sofrimento, de estarmos bem com nossos sentimentos e emoções, de pensarmos sobre nossas perguntas sem respostas, nosso desconforto corporal e nossa inadequação no mundo.

Você já deve ter notado que o Yoga está na moda. E que a visão e a expectativa que as pessoas que não praticam Yoga e nós mesmos temos é que os yoguis são pessoas calmas, resolvidas, sem problemas e que vivem em perfeita harmonia. Esse é o ideal, mas não é tão fácil de se chegar a ele. Afinal, a maioria das pessoas busca o Yoga visando resolver seus muitos questionamentos e seus vários problemas de saúde.
Devemos estar conscientes da grande responsabilidade para os praticantes de Yoga diante da sociedade, pois o Yoga é um estado de consciência que produz paz interior, mas é um estado em que entramos e infelizmente saímos. Quando saímos deste estado, a primeira coisa que ouvimos é a famosa frase: “mas você não faz Yoga?”.

Fácil é falar. Se Yoga fosse realmente o remédio para todos os ataques de nervosismo, toda crise de ansiedade e insegurança, com certeza todos estariam praticando. O que não é o caso. O Yoga pode, sim, ajudar muito, mas só faz efeito realmente quando dedicamos bastante tempo a ele. É uma troca proporcional: o Yoga lhe dá à medida que você dá a oportunidade a ele de mostrar seus efeitos. E tem muita gente por aí que fala mais do que pratica...

É importante lembrar que a pessoa que pratica Yoga está buscando e não necessariamente encontrou o que busca. Quando você inicia a prática de Yoga, sente muitos resultados no corpo, na respiração e na consciência. Esse primeiro passo é como uma boa faxina em uma casa abandonada. Quando você limpa uma casa abandonada pela primeira vez, vê uma grande diferença, mas, com o tempo, morando na casa, percebe que existem muitas coisas a serem consertadas e muita sujeira nos cantos. Por isso, quando iniciamos a prática do Yoga, sentimos efeitos superficiais, ou seja, mudança de postura, melhora no sono, maior conforto corporal entre outras coisas. Mas é com algum tempo de prática que podemos mudar nossos condicionamentos mais profundos, ou seja, a maneira como vemos as coisas, nosso gênio e modo de lidar com dificuldades do dia-a-dia por exemplo. É que o Yoga só produz grandes resultados quando praticado por um longo período e sem interrupção. Essa mudança é lenta e deve ser lenta para não produzir danos tanto no corpo como nas emoções; esta mudança deve ser um processo.

É ruim quando, por alguma razão, perdemos o centro, pois o Yoga se perde junto. Ficamos decepcionados e acabamos pensando que a prática não funciona porque, apesar de todo o esforço, percebemos que ainda estamos muito longe do nosso “ideal” ou das expectativas das pessoas à nossa volta. Então a melhor resposta para a pergunta “mas você não faz Yoga?” é: “imagina se eu não fizesse Yoga!”. Com certeza as coisas seriam bem piores, pois estaríamos ainda mais desequilibrados, mais inconscientes.

Durante a caminhada do Yoga, encontramos vários obstáculos, mas lembre-se de que obstáculos podem ser transpostos. Um deles é a incapacidade de se manter no estado de Yoga. Isso acontece com freqüência, pois o caminho não segue sempre na direção ao ponto aonde queremos chegar. Às vezes, temos de voltar ou ficar parados para que a transformação aconteça gradualmente e, dessa forma, possamos nos proteger de processos muito fortes que podem produzir mal-estar tanto físico como psíquico.

O caminho, às vezes, é fácil, às vezes, difícil; às vezes, damos passos largos e, muitas vezes, ficamos parados. O importante é nos mantermos atentos o tempo todo, como testemunha, observando o que acontece. E não desistirmos, pois a paz e a confiança de que tudo é da maneira como tem de ser vêm com o passar dos anos.

Durante a caminhada, vemo-nos fazendo a coisa errada, saindo do caminho. O mais importante é mantermos a atenção e tomarmos consciência de que estamos fazendo a coisa errada, afinal estamos o tempo todo fazendo um diagnóstico de nós mesmos. Em qualquer tratamento médico, o mais importante para a obtenção da cura é o diagnóstico para, assim, tomarmos o medicamento apropriado, tratarmos o que tem de ser tratado. E, nessa caminhada, é errando e tomando consciência disso que vamos aprender.

Outro obstáculo é a preguiça. Quando ela aparecer, lembre-se de que sempre nos sentimos melhor depois da prática. É a constância na prática que irá produzir o autoconhecimento e o equilíbrio interior. Sinceramente, nunca me arrependi de ter feito uma prática de Yoga, e sim de ter deixado o dia passar em branco, sem fazê-la. Tenha na memória o final de uma ótima prática, na qual você se sentiu nas nuvens ao terminar. Quando a preguiça ou o desânimo aparecerem, lembre-se desse momento feliz. Assim fica mais fácil iniciar e, depois de começar, tudo fica bem.

Basicamente o que a prática do Yoga proporciona é um treinamento para nos mantermos no momento presente, que, aliás, é o único que existe. Essa presença ajuda na concentração e na conexão entre o que pensamos e sentimos, tornando a mente mais objetiva para poder ver as coisas como elas são e não como nossos sentimentos e condicionamentos estão acostumados a encarar. Isso torna a vida mais real. Dessa forma, nós nos mantemos centrados em todas as situações e, mesmo quando escorregamos, tomamos consciência e podemos rever o que foi feito.

Tente segurar a sua ansiedade espiritual. Mantenha-se no caminho, sem expectativas, pois ele é longo. E nem sempre o caminho mais curto é o mais fácil. Às vezes, um passo para trás é, na verdade, uma longa caminhada para frente. Isso depende de você aproveitar a oportunidade de aprender. Faça sempre a prática com uma mente renovada e fresca, como se fosse algo novo e único, pois isso nos ajuda a estarmos presentes.

Ao escolher-se o caminho do Yoga, muitas disciplinas e regras são requeridas; é importante ir com calma, mudando seus hábitos de forma tranqüila, equilibrada, sem muito controle. Algo que seja de dentro para fora e não com pressão de fora para dentro. Isso é muito importante no caminho, já que tudo que controlamos demais acaba criando uma pressão interna muito grande até chegar o dia que explode! Com esse excesso de controle, muitas pessoas perdem a oportunidade de se aprofundarem no Yoga, acabam perdendo um enorme presente de Deus. Vá com calma e sempre. Mantenha-se presente e tenha uma boa caminhada!

Camila Reitz